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dia internacional da igualdade feminina

Mães pesquisadoras: mudança em edital de pesquisa do IFSul traz mais equidade na seleção de projetos

Neste mês, entraram em vigência os projetos aprovados dentro do primeiro edital do instituto que estabeleceu um cálculo diferenciado na pontuação do currículo de pesquisadoras que estiveram em licença devido à maternidade

  • Publicado: Quarta, 26 de Agosto de 2020, 20h59
  • Última atualização em Quarta, 26 de Agosto de 2020, 20h59

Para construir ações que diminuam desigualdades de gênero nas carreiras científicas, é preciso reconhecer, por exemplo, a necessidade de iniciativas que atentem para a realidade de mães pesquisadoras. De acordo com o IBGE, em 2019, entre homens e mulheres que trabalham, constatou-se uma significativa sobrecarga feminina: elas dedicaram cerca de oito horas semanais a mais que os homens a afazeres domésticos e/ou a tarefas de cuidado de pessoas.

O quadro social trazido pelos dados do IBGE e que, inclusive, pôde ser ainda mais percebido pelas famílias durante a pandemia, também alerta para uma realidade que, muitas vezes, inviabiliza que pesquisadoras com filhos pequenos possam ter sua produção científica contabilizada da mesma maneira que a de pesquisadores homens.

Considerando essa realidade e com o objetivo de promover mais equidade de gênero na seleção de projetos de pesquisa, o IFSul adotou, em 2020, uma nova maneira de avaliar as propostas apresentadas em editais da Pró-reitoria de Pesquisa, Inovação e Pós-graduação (Propesp). Os projetos aprovados neste primeiro edital já com a mudança entraram em vigência neste mês de agosto e, hoje, no Dia Internacional da Igualdade Feminina, voltado à sensibilização da sociedade quanto à eliminação das desigualdades existentes entre homens e mulheres, duas professoras do IFSul contempladas na seleção comentam de que maneira a alteração traz avanços em direção à equidade de gênero.

 

Um ano a mais na avaliação do currículo da pesquisadora

De acordo com a nova metodologia, ao apresentar a declaração de licença maternidade ou adotante, as pesquisadoras proponentes puderam acrescentar um ano a mais, para cada licença, na avaliação dos seus currículos para fins de cálculo da pontuação da sua produção científica. A alteração é significativa, já que o cálculo da pontuação do currículo de quem coordena um projeto é realizado com base nos dados do currículo Lattes, considerando os últimos cinco anos de sua produção acadêmica, e o resultado deste cálculo representa 30% da avaliação de um projeto submetido - os outros 70% estão relacionados ao mérito da proposta de pesquisa apresentada.

 

“Missão social e humanizadora”

Equilibrar as posições identitárias de mãe e pesquisadora, de acordo com a professora do câmpus Venâncio Aires Janete Müller, envolve uma série de composições que entrelaçam amor, perseverança, esforço pessoal, ética e superação de desafios. A docente, pesquisadora na área da acessibilidade e da inclusão de pessoas com deficiência, destaca que, ao aproximar a maternidade de uma temática que lhe move como mãe e pesquisadora, percebe uma qualificação mútua das duas experiências, mesmo elas compreendendo diferentes afetos, tempos e responsabilidades.

Ao identificar que, na sociedade da produtividade, as mulheres enfrentam preconceito devido à maternidade, Janete ressalta que, historicamente, houve avanços, como a inserção do período de licença-maternidade no currículo Lattes, “indicando empatia e respeito por quem se dedica a um filho ou uma filha”. Quanto à mudança realizada dentro da instituição, a docente avalia como uma importante conquista. “O IFSul é precursor ao consolidar uma política de equidade em edital de pesquisa. É importante considerar que a ótima classificação do projeto esteve também ligada às ideias propostas no trabalho, ou seja, trata-se de mérito acadêmico em um Instituto que busca reduzir desigualdades, em que cumprimos nossa missão social e humanizadora”, comenta.

 

“Não é porque a mulher se torna mãe que ela deve abandonar certas ações”

A professora Cristiane Brauer Zaicovski, do câmpus Pelotas-Visconde da Graça, conta que, em 2019, estava grávida da filha Gabriela quando foi lançado o edital de pesquisa daquele ano. Ela teve seu projeto aprovado e retornou de licença em outubro, cerca de dois meses depois do início de vigência do projeto. No período de agosto a outubro, quando esteve afastada, uma colega professora da sua área atuou como coordenadora adjunta.

“Não é porque a mulher se torna mãe que ela deve abandonar certas ações ou ser impedida de participar. Com organização, é possível conciliar a mulher mãe e profissional”, afirma Cristiane. Para ela, que pesquisa na área da agroindústria, a contagem de um ano a mais na análise de currículo para as mulheres que estiveram em licença devido à maternidade diminui a desigualdade em relação aos demais colegas. “Mesmo com todo o apoio e organização, os primeiros anos da vida de um bebê demandam um tempo maior de dedicação, o que impede, querendo ou não, uma maior participação e atuação no ramo da pesquisa, que exige tempo para a elaboração, redação de resultados e orientação dos bolsistas.”

 

Mudança permanente

A alteração nos editais de pesquisa, embora seja uma novidade recente, veio para ficar. A demanda, surgida a partir de uma experiência em um edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do RS (Fapergs), deverá ser permanente, afirma o pró-reitor de Pesquisa, Inovação e Pós-graduação, Vinícius Martins. Segundo ele, a fim de garantir a normatização da mudança, essa nova forma de avaliação da pontuação está sendo colocada na minuta da política de pesquisa do instituto, em fase de construção pela Propesp.

De acordo com o reitor Flávio Nunes, esta primeira experiência em editais da Propesp deve se estender também para outros editais, cujas alterações precisam passar pelas respectivas câmaras. “A ideia é consolidar este necessário reconhecimento e apoio para as mães que estão em período de afastamento durante seus projetos. A diminuição das desigualdades é um processo lento muitas vezes, mas que devemos estar buscando sempre”, afirma o gestor, destacando que a instituição está sempre aberta a receber outras sugestões que possam ir neste mesmo sentido.

Edital - A novidade nas avaliações dos editais da Propesp foi implementada a partir de março, com a publicação do edital 06/2020, voltado ao apoio financeiro e bolsas a projetos de pesquisa e inovação.

 

Saiba mais

Dia Internacional da Igualdade Feminina

Celebrado no dia 26 de agosto, o Dia Internacional da Igualdade Feminina tem como objetivo combater desigualdades de gênero, além de comemorar e reafirmar as conquistas civis, profissionais, políticas e socioeconômicas das mulheres na sociedade. A data teve origem nos Estados Unidos, com a conquista do direito ao voto feminino em 1920 após décadas de um intenso movimento sufragista. E assim como nesta reportagem abordamos o papel fundamental das mulheres mães no avanço da sociedade, o próprio evento histórico que deu origem à data teve, em um momento crucial, a intervenção de uma mãe. De acordo com documentos do National Constitution Center, centro de documentação histórica relacionada à constituição dos Estados Unidos, a votação sobre a ratificação da emenda constitucional 19, que garantiria o voto feminino no país, teve um empate que deixou o voto decisivo sob responsabilidade do deputado do Tennessee, Harry T. Burn, de 24 anos. Ele, que vinha de um distrito conservador e que levava no peito uma rosa vermelha, símbolo do movimento contrário ao voto feminino, surpreendeu a todos ao dizer “sim” quando questionado se votaria para ratificar a emenda. “Burn tinha uma carta no bolso do terno, de sua mãe, Febb E. Burn, na qual ela sugeria que ele ‘fosse um bom menino’ e votasse a favor da emenda”, conta o registro. De acordo com reportagem recente do Washington Post sobre o episódio histórico, “Febb tinha formação universitária, lia três jornais por dia e tinha consciência de que sua mente era igual à de qualquer homem”, e suas conversas com o filho sobre a importância do sufrágio foram determinantes para o voto pelo "sim".

Vale lembrar, no entanto, que a garantia do voto feminino nos Estados Unidos, resultado da luta de décadas do movimento sufragista norteamericano, não alcançou, na prática, todas as mulheres, especialmente negras e imigrantes. A dificuldade de acesso a direitos como este, inclusive, evidencia a necessidade da interseccionalidade na luta pela equidade, articulando questões relacionadas a raça, gênero e classe social. Já no Brasil, o direito ao voto feminino, também resultado de um grande movimento das mulheres, foi conquistado em 1932, através do Decreto 21.076 instituído no Código Eleitoral Brasileiro e consolidado na Constituição de 1934.

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